
“E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos.”
Os costumes que dão lugar à solidão, à ausência, â melancolia contida naquelas músicas que tocam no rádio nas madrugadas insones, as lembranças deixadas ao acaso nos bancos de praças, nos passos desfeitos na areia da praia e em tantos outros lugares... tudo isso faz doer quando um relacionamento termina. Recordar é tão perturbante quanto à espera da morte iminente. Relembrar é agonizante, dilacerante.
Para mim, no entanto, o que mais machuca é perceber que as marcas que foram deixadas em mim, momentos que para mim, se eternizariam na memória, não tiveram a mesma importância para o outro. Lidar com essa idéia talvez seja o essencial para o crescimento pessoal, para aprender a recomeçar, convivendo com os erros cometidos e extraindo deles as melhores lições possíveis. Mas crescer dói. Desfazer-se de sonhos edificados nos mais felizes e doces momentos parece-nos ainda pior que a morte iminente, assemelha-se a própria morte.
E o que dizer da espera? Do acreditar no regresso e por isso se desejar a solidão? O que dizer quando a busca por outros braços que não os do objeto de nosso amor nos dá a mais absoluta certeza de que tudo isso é engano? É seus braços que quero, é apenas ele, o dono dos meus sonhos do meu coração e por sentir-me completa, mesmo em sua ausência, deixo-me estar assim perdida, tão só, perdida na mais linda dor e agonia. Estou só, em meio, ao escuro e ao silêncio dos lúgubres portos. A esposa que espera, afogada em suas lágrimas pacificadas, triste e só como os veleiros nos portos silenciosos.