terça-feira, 29 de setembro de 2009

Portos


“E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos.”

Os costumes que dão lugar à solidão, à ausência, â melancolia contida naquelas músicas que tocam no rádio nas madrugadas insones, as lembranças deixadas ao acaso nos bancos de praças, nos passos desfeitos na areia da praia e em tantos outros lugares... tudo isso faz doer quando um relacionamento termina. Recordar é tão perturbante quanto à espera da morte iminente. Relembrar é agonizante, dilacerante.
Para mim, no entanto, o que mais machuca é perceber que as marcas que foram deixadas em mim, momentos que para mim, se eternizariam na memória, não tiveram a mesma importância para o outro. Lidar com essa idéia talvez seja o essencial para o crescimento pessoal, para aprender a recomeçar, convivendo com os erros cometidos e extraindo deles as melhores lições possíveis. Mas crescer dói. Desfazer-se de sonhos edificados nos mais felizes e doces momentos parece-nos ainda pior que a morte iminente, assemelha-se a própria morte.
E o que dizer da espera? Do acreditar no regresso e por isso se desejar a solidão? O que dizer quando a busca por outros braços que não os do objeto de nosso amor nos dá a mais absoluta certeza de que tudo isso é engano? É seus braços que quero, é apenas ele, o dono dos meus sonhos do meu coração e por sentir-me completa, mesmo em sua ausência, deixo-me estar assim perdida, tão só, perdida na mais linda dor e agonia. Estou só, em meio, ao escuro e ao silêncio dos lúgubres portos. A esposa que espera, afogada em suas lágrimas pacificadas, triste e só como os veleiros nos portos silenciosos.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Em teu nome


Hoje, fazemos aniversário. Contradições do amor. Parece-me ter sido ontem, todavia sinto ser um ano cada um desses 365 dias. A única coisa capaz de dialogar com o tempo é o amor: ele nos torna sábios anciãos e pueris crianças. A felicidade está em conseguir equilibrar esses dois reflexos do tempo dentro de nós. E, se não conseguimos, para não sermos intitulados impotentes, tentamos classificá-lo. Usamos calendários, denominações frias, relógios...destes, um só não basta. É necessário o termos ao alcance dos nossos olhos a todo instante. Dumont deu asas aos homens, mas tornou-os ainda mais escravos do tempo, cravando neles um sinal no pulso. Lá mesmo! Onde é possível sentir clamar a vida.
Pelo meu amado, esperei anos, decádas, milênios. Vi passar os segundos preguiçosamente, enquanto tecia os sonhos ao sol e os desfazia à lua. Como Penélope, esperei por ter certeza. Desconhecia que nada na vida é certo, exceto o fim. Freud escreveu à sua amada indagando-a: "Não se sente meio orgulhosa por ser capaz de fazer feliz alguém que está tão distante?" Talvez o verdadeiro amor seja constituído de ausências.
Hoje, no dia de nossos anos, escrevo enquanto me vejo esvair-se de mim languidamente.Morro para ele, como outrora morri para mim quando a lança de seus olhos atingiram-me no peito fatalmente. Morro como morri com seus risos e com seu pranto. Morro como morri ao vê-lo soltar das minhas as suas mãos e como nas vezes em que se perdeu de mim sem que eu soubesse.
Morro, por fim, quando partiu e me partiu. Despeço-me dele sem lágrimas nos lábios ou riso nos olhos. Despeço-me plácida e lividamente.E peço, como pedido derradeiro da vida que a ele entreguei que, se me estiver ouvindo, não regresses mais. A dor devorou todos os nossos sonhos e eu não suportaria viver para perder-te uma vez mais.Deixe que, do mesmo modo como o destino desenlaçou nossas mãos, ele dilacere os sonhos que dormimos, o tempo que vivemos e o amor que encontramos. Deixe que o destino escarneça a alma que ainda me resta presa a essa saudade constante que me surge como um grão de esperança. Se me ouves, abandone-me! Deixe-me morrer afogada na dor da solidão.
Disse Machado que a grande vantagem da morte é "que, se né "que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar..." Acredite-me. De meus olhos, nenhuma outra lágrima de saudade será desperdiçada em teu nome.