quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Amorzade

Amorzade significa o quê? Minha nossa! Em meio há uma língua em que uma só palavra define afeto consangüíneo, carnal, Eros, philia, ágape, uma alegria nos invade ao encontrarmos um significante para determinado significado. Como diria minha caríssima Martha (a Medeiros), faltam palavras. E nessa ausência, como é belo reconhecer que algo se distingue dos demais. A humanidade parece ter perdido a sensibilidade de ver o singular, ser diferente parece ter sido submetido ao igual, ao comum. Para ser aceito em determinado grupo, nos moldamos, cortamos as sobras. O lamentável é que, frequentemente, é nelas que estão a nossa essência. Determinismo? Não sei. Deixo a definição aos filósofos.
A verdade é que nos relacionamos com o eterno. Bom mesmo é ficar pulsando na vida de alguém, e ficar pulsando até que ela se esvaeça de todo. Bom mesmo é ser para sempre. Mas haverão os filhos para deixar no colégio, a roupa na lavanderia, a comida da semana para preparar (não dá tempo. Descongela uma lasanha e pronto), o trabalho, o pneu que estourou, o filho que brigou no colégio, o marido que não atende o telefone, as reuniões de negócios , os cursos de verão, a caixa de email lotada, a secretária que não pára de ligar, o semáforo que fecha, o carinha do Sedan que te fecha, os congestionamentos, os congestionamentos, os congestionamentos, as buzinas, a casa com brinquedos espalhados, som no último volume, vídeo game ligado, jantar, ver o jornal da noite (crise? De novo?), e o dólar, as bolsas daqui, de Nova Iorque, do Japão, da China, da Grécia (até a da Grécia?)... Faltará tempo.
Talvez nos encontremos nos semáforos, na escola das crianças, nas férias( alguém ainda tem férias?) “Me perdoe a pressa/É a alma dos nossos negócios”. Teremos pressa, sempre mais, prometeremos visitas que talvez não se realizem. É preciso nos querermos mais do que o mundo nos quer devorar, é preciso querer isso mais do que querer lembranças. Amorzade? O que é? Temos a vida inteira para querê-la descobrir. E o tempo? Deixemo-no com os relógios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário